gabriela perigo
até 5/dez
Tá uma loucura. Vai, confessa pra si mesma: viver no Brasil tá uma loucura. Acordamos com um golpe depondo a primeira presidenta eleita no país. Foi piscar o olho e tem secretário de cultura encenando discurso nazista em rede nacional.
A SAGA, novo livro de gabriela perigo, reposiciona a aventura tortuosa que é viver os últimos anos no Brasil. Desculpa, mas aqui nós não vamos sofrer só de problemas pessoais. No livro caminhamos de forma não linear pelos recentes acontecimentos políticos do país. O jeito escolhido para tratar o horror é justamente o jeito que este horror nos foi anunciado: memes, jargões, frases de efeito povoam uma poesia interessada em se aproximar da oralidade e do universo das redes sociais.
Dois outros objetos podem acompanhar o livro, um jornal e uma bandeira – plataformas tradicionalmente usadas em manifestações políticas. Como o livro, o jornal opera apropriações e remixagens, mas agora também com imagens. Extratra: o universo memético do texto se une a prints de navegação no GoogleMaps em suas páginas. E a bandeira declara um dos versos de gabriela. Convidamos você a pendurá-lo na sua janela. O desejo é amplificar o debate, levá-lo para outros espaços, testá-lo em outras linguagens.
Apesar de não ser uma narrativa pessoalista, o livro explora a relação de gabriela com seu entorno. Ele mastiga, mas não digere a história. Ele vive. Um corpo atônito e furioso. Atento. Entre o real e o virtual, a ironia e os fatos, o chiste e a lamúria, o livro registra um país que desmorona entre suas mãos.
Diferentes procedimentos são empregados na construção do texto: apropriações, deslocamentos, repetições. Mas essas escutas não são desafetadas. Há certa melancolia, por exemplo, na atenção especial à cartografia do subúrbio do Rio de Janeiro. Com isso, algum lirismo tensiona a escrita processual e experimental a que o livro se propõe.
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Em julho de 2020, gabriela navegava pelas ruas do Rio de Janeiro pelo GoogleMaps e encontrou um pequeno incêndio na Glória. Em abril de 2021, se deparou, também no GoogleMaps, com um carro de som atravessado no meio de uma rua em Benfica, bairro onde cresceu. Na imagem, o motorista encara a câmera do Maps.
As ruas por onde caminhou virtualmente já não existem. Um caminhão da coca-cola, um gol branco em frente à estação do trem, um homem de bermuda fazendo o sinal de ok com a mão: imagens de uma cidade parada no tempo se sobrepõem no software de uma das maiores multinacionais do planeta. A quem pertencem essas imagens? Conseguimos tomá-las de volta? Roubar o sonho, sonhar por nós?