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sáb., 09 de nov.

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edições garupa

movimentos abolicionistas e práticas transcoloniais

Curso livre de quatro encontros com Claudio Medeiros (UERJ).

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movimentos abolicionistas e práticas transcoloniais

horário e local

09 de nov. de 2019, 08:00 – 30 de nov. de 2019, 11:00

edições garupa, Rua Acre, 77 - Centro, Rio de Janeiro - RJ, Brasil

sobre

Nosso curso contará com quatro momentos. No primeiro iremos tematizar a vida e a obra abolicionistas de duas personalidades importantes nos últimos anos do Império: André Rebouças, cuja inscrição naquela sociedade parecia dupla (talvez duplo desterramento): neto de africana, porém filho de Antônio Rebouças (parlamentar e conselheiro do Império), herói de Guerra, professor da Escola Politécnica, foge para o exílio com o Imperador e comete suicídio (1898); e Joaquim Nabuco, três vezes deputado, também monarquista, vasta obra intelecutal, vem a ser nomeado embaixador em Washington, onde morre em 1910. A propaganda abolicionista de André Rebouças preconizava duas reformas sociais simultâneas: 1º) a abolição imediata, instantânea e sem indenização, isto é, a extinção completa do escravagismo; 2º) a destruição do monopólio territorial e do latifúndio de terra, isto é, a eliminação da aristocracia rural dos exploradores da raça africana. Já o abolicionismo de Joaquim Nabuco compreendia o estabelecimento da união das raças na liberdade, a eliminação das categorias de senhor/escravo por uma lei com os mesmos requisitos que as demais. Como seriam em geral iletrados os escravos, o abolicionismo, em Nabuco, é advogado dos que não podem protestar. Habituados ao chicote, não conspiram um haitismo, não projetam possuir terra, portanto a vitória abolicionista, ele dizia, seria superar o medo no coração da maioria do país, e materializar a simpatia pela oprimido. As questões levantadas ao longo desta fase inicial do curso serão: quais são as relações possíveis e prováveis entre vida, obra teórica e militância? As diferenças estratégicas entre Rebouças e Nabuco são apenas diferenças de método, ou cada qual preconizava objetivos distintos? Caso não sejam diferenças estratégicas, pode-se dizer então que cada um avaliava a relação entre a Escravidão e os aparelhos de Estado de forma distinta? Mais ainda: por que a obsessão de Nabuco pela realização de um sentimento de universalidade, ou unidade cívica e humanitária, entre antigos senhores e escravos?

No segundo momento nos dedicaremos à análises de textos contemporâneos de Filosofia da História, Teoria da História e Pensamento Descolonial. Autores como Achille Mbembe, Michel Foucault, Frantz Fanon, Walter Benjamin, Paul Gilroy e Luiz Antônio Simas contribuirão para que se possa situar o tema do abolicionismo brasileiro no solo de um amplo projeto de descolonização social e ética. Faremos incursões pontuais a cada um dos autores, de modo a encaminharmos questões sobre as formas de racialização da experiência da liberdade, sobre a relação entre a legalidade (polícia) e abusos de liberdade, sobre dualidades hipotéticas tais como como colonização/descolonização, devir-negro/diáspora, liberação/prática de liberdade.

Nosso terceiro encontro pode ser denominado “Raça como fronteira e abolicionismos quilombolas”. Nosso objetivo será evidenciar a pluralidade de perspectivas próprias de agentes integrados na causa da liberdade no Brasil na segunda metade do século XIX. Organizaremos uma roda de debates em torno da leitura de algumas fontes, em primeiro lugar a respeito das formas de ocupação da cidade pelas camadas populares: a tematização dos cortiços cariocas sob a ótica de João do Rio na crônica “Sono Calmo”, de A alma encantadora das ruas; a tematização da formação da cidade do Rio de Janeiro e a valoração entusiasta sobre sua paisagem urbana em Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá, de Lima Barreto. Em seguida, iremos debater novamente o tema da liberdade, mas desta vez a partir de uma fonte jornalística e uma obra rara: primeiramente, exploraremos a cobertura realizada pelo abolicionista José do Patrocínio, em seu jornal “Gazeta da Tarde”, do caso “Castro Malta”; discutiremos a ideia de liberdade em no “capítulo IX – A preta Suzana” do livro Úrsula de Maria Firmino dos Reis.

O último encontro irá se chamar: “Os conceitos de mutirão e assentamento: ideias para a segunda abolição.” Desta vez gostaríamos de tratar dos conceitos de “mutirão” no Martinho da Vila, e do conceito de assentamento nos trabalhos de Muniz Sodré e Elbein dos Santos. Estudaremos o “axé” do culto aos antepassados, com potencial para gerar e ritualizar territórios, e desbloquear cômodos de realidade, ou seja, como integrante das táticas de sobrevivência contra a barbárie dos cafezais, dos canaviais e das minas. Não é possível pensar a sobrevivência aos séculos de cativeiro, agravada pela presença indesejável do africano na Colônia, sem credibilizar atecnologia ancestral enquanto modelo de produzir a vida que nossos ancestrais nos deixaram como legado – como diz Katiúscia Ribeiro.  Ancestralidade é o que nos coloca radicalmente em face àquilo que aí se encontra, vindo dos nossos ancestrais, quando chegamos ao mundo. Sua presença espectral é ritualisticamente territorializada no terreiro, se por terreiro não compreendermos apenas a prática do candomblé. Mutirão e assentamento: ambos os conceitos invocam ancestralidades banto, nagô e cabocla. O mutirão quando nos ensina uma forma de trabalho que não implica servidão e animalidade; o  assentamento quando contrai por metáfora espacial o solo mítico da origem e faz equivaler-se a uma parte do território histórico da diáspora. Ambos são ideias para a segunda abolição, como prática de rasura naquilo que Ronnielle Singular denomina “transcolonização de si mesmo”.

Aula I – sábado, 09/novembro

9h às 12h

Apresentação e justificativa do curso, ii) Visão geral do percurso, iii) Questões a serem exploradas a partir da bibliografia: O que foi a escravidão segundo Nabuco e como eliminar seus efeitos econômicos e morais? O que foi o abolicionismo? O que é a Democracia Rural Brasileira de André Rebouças?

Aula II: – sábado, 16/novembro 

9h às 12h

Problematizações históricas sobre o Racismo de Estado. Problematizações históricas sobre a sociedade descolonizada e sobre o problema da violência na revolta. Discussão sobre os conceitos de “prática de liberdade”, “devir-negro do mundo” e “ética do passante”.

Aula III – sábado, 23/novembro 

9h às 12h

O problema da diáspora e suas implicações históricas e ético-políticas. A diáspora como encruzilhada atlântica no Brasil Império. Contextualização histórica da vida social do africano em diáspora no Rio de Janeiro no final do XIX. Temporalidade histórica na experiência da finitude, e temporalização da diáspora a partir marco da “morte como figura de encantamento”.

Aula IV – sábado, 30/novembro

9h às 12h

Os conceitos de mutirão, axé, ancestralidade e assentamento. A festa como elemento catalisador da liberdade. Encaminhamentos e balanço do curso

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Medeiros cresceu na margem oeste do rio de janeiro, é de 1988 e é doutor em Filosofia. Foi professor de Filosofia e teoria da História na UERJ e na UFRJ. É coordenador do núcleo de “Ontologia, Subjetividade e Ancestralidade” do Laboratório Geru Maã (IFCS-UFRJ), e escreve hoje sobre o pensamento político dos abolicionistas afrobrasileiros do XIX e sobre uma coisa que Muniz Sodré nomeia como “mitologias espaciais”. Prepara um volume sobre a temporalidade histórica pós-colonial chamadoUma genealogia do olfato. Publicou os poemas Mármore e Barbárie (Kza1) e escreve na companhia de alguns fantasmas urbanos o poema-performance Zumbimalê Pivete.

inscrição

  • pagamento até 07/nov

    R$ 300,00
    Vendas encerradas

Total

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