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Este é o segundo bloco da coleção a galope – uma colab entre a garupa e a kza1 – que conta ainda com a parceria das iniciativas Leituras.org, responsável pela comunicação visual da campanha de pré-venda, e da gráfica e editora Impressões de Minas, responsável pela impressão dos livros.

 

Na compra dos seis títulos juntos, oferecemos desconto de 20%.

 

A coleção busca contribuir para o panorama da atual poesia brasileira. Autorxs vivxs, escritas em tempo real. Mas não tem a ambição de mapear ou cartografar esse panorama. Em vez disso, pontuamos alguns compromissos: transitar, operar testes, correr riscos. E nos permitir um trabalho que desoriente. Editar poesia é uma modalidade de abertura para a própria noção de poesia.

 

sobre os livros:

 

nascente, de Heleine Fernandes

 

Em seu livro de estreia na poesia, Heleine Fernandes revela um pensamento estético-político inteligente e fora do óbvio ao redor do fazer poético, evidente também – mas de outro modo – em seu A poesia negra-feminina de Conceição Evaristo, Lívia Natália e Tatiana Nascimento, lançado pela Malê, em 2020. Aqui, o caminho de sua chegada conta uma herança ancestral. Sua mãe, sua tia e sua avó são algumas das vozes que povoam o livro. Assim, o espaço da casa também é um tipo de ventre, um planeta das águas que surge e nos envolve, que faz a respiração ficar calma, que é uma praia onde a gente deita e se banha. Brinca e dá risada. Nascente desenlaça a história repartida de uma família que inventou uma maneira de viver no Rio de Janeiro; nessa leitura, tudo o que passou ainda será descoberto. Se há muitas histórias não contadas, esta escapuliu com ternura e força do destino que a estrutura social racista e machista tenta lhe impor, o silêncio.

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comunista FDP, de Leonardo Marona

 

Wagner Tiso entra na livraria, senta-se no café e olha nos olhos de Leonardo Marona. Nada vê. A apoteose da revolução vermelha se derreteu nas ilusões cadentes dos caninos de Michel Temer. Os covardes de sempre nos atormentam como sempre. Estamos na merda. O comunista perdeu e ri na cara da morte. Deixa ele na merda. Deixa ele achar um jeito de sair de lá. Wagner Tiso tenta ajudar e cantarola, marca o passo. Ele sabe que é preciso cantar o mundo arruinado. O analista faz uma recomendação, ninguém ouve. Maradona chuta a bola, eis a guerra. O comunista está quase sem vida. Deixa ele achando que não dá mais. Deixa ele lamber a carne viva. Comunista FDP, novo livro de Leonardo Marona, faz, não sem ironia, uma leitura da crise afetiva que a realidade política do país nos últimos anos nos causou. Nela, o gesto que parece retornar é o olhar de cumplicidade que trocamos, em silêncio, com aqueles que sabemos estar no mesmo lado da trincheira.

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a sexualidade de meninas ex-crentes, de Bianca Gonçalves

 

As mãos tremem quando tocam o próprio corpo. Elas ainda não conhecem o que podem encontrar. De mãos dadas com a melhor amiga, elas não sabem que podem desabotoar aquela camisa. A língua fala de fogo, a língua fala de prazer. Mas Deus quer obediência, a saia comprida e os longos cabelos. Deus quer a Bíblia aberta na página certa. As mãos enlaçam a fita do vestido novo, a roupa mais bonita, a roupa de domingo. As mãos ficam inquietas no banco da segunda fila. Deus quer que a gente seja feliz. Depois da benção final, acho que vou te chamar para sair.

Segundo livro de poemas de Bianca Gonçalves, a sexualidade de meninas ex-crentes aborda a aventura da atração vivida por jovens evangélicas. Traz para perto seus conflitos e revelações. Mostra suas dificuldades e o forte sentimento de disputa entre o repreendimento e a tentação.

Bianca também mantém o blog Bianca não é branca.

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[nome], de Italo Dantas

 

O ruído é um tipo de amor. Ama-se loucamente como as trilhões de maquitas nos canteiros de obras amam os azulejos e as telhas de amianto. O ruído arde como a política. Notas de duzentos sendo esfregadas pelos dedos dos ladrões. O ruído é claramente a vontade de morrer. Materialidade do que escapa à forma feita. Quem falha na morte é quem fica. E ficar nem sempre é bom. [nome], de Italo Dantas, é todo feito de uma ruidosidade lírica, uma escrita tomada por empuxos nervosos, um texto frito que nem café com anfetamina, pão na chapa com pasta de cocaína. Nos erros e vacilos, nos deslizes de intensidade gráfica, a realidade retorcida é por múltiplos planos virtuais, por nuvens falsamente celestial. Esta é a estreia de Italo em livro, mas o poeta tem trajetória em experimentação poética, autorais e de tradução, em revistas e publicações independentes, como na la bodeguita, publicadora que ele movimentou ao lado de Camillo José e Jonatas Onofre.

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tudo que se aproxima faz um som, de Luiza Leite

 

A trajetória artística e o pensamento de Luiza Leite parecem criar zonas autônomas temporárias. Com as publicações na fada inflada, com as oficinas sobre escrita processual, nas aulas que deu recentemente na pós em Artes da Cena, da ECO-UFRJ, no jeito que caminha pelas ruas de qualquer cidade, Luiza parece sempre tentar modos de convívio com o mundo que desmontam a frase feita, que abrem espaço – com escuta e delicadeza – para o diferimento.

Em tudo que se aproxima faz um som, Luiza monta um texto por dentro de um teatro da sonoridade. Canta como quem chega perto. Sem avisar. Cada palavra que vem na boca esteve antes em outro lugar. Ela estala e morre. Certo dia, um pouco antes da pandemia, estas páginas estavam distribuídas numa parede. O momento quando este texto ainda poderia ter outro jeito de se mexer. Os textos se atraem. São cantos que gravitam. Dizem sobre as coisas mesmo se as perguntas não estejam feitas. Quando dizem, criam dúvidas. Os textos se repelem. Fazem o que querem. O fluxo segue. Agora a proposta talvez seja ouvi-los na voz dxs leitorxs. E prestar atenção nas outras maneiras de dizê-los. Repetir, brincar. As coisas mudam quando ditas por você. Elas ganham outro som, o seu. Fazem outro barulho quando chegam perto.

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se te amarrarem na estrada, de Heyk Pimenta.

 

cavalo, avião, querosene, desejo de incêndio. se te amarrarem na estrada é um livro que te diz com todas as letras: a guerra aconteceu. Nele, Heyk Pimenta observa sua geração desmontar a geladeira para vender o cobre, virar cidades onde ninguém procuraria um cara. Estado ou condição de quem vive desterritorializado. Um pano de fundo roceiro. Descrição de cena: cavalos que são como homens rebeldes, altos e fortes, insubordináveis. O início da estrada é um fim-de-mundo de poeira e milharal. Mas estamos deitados no chão enquanto alguém dá as cartas; cara no chão gelado com as mãos na cabeça enquanto passa um pronunciamento do presidente. Você, rendido, sente roçar as amarras. Mas sabe que pode perfeitamente roer as cordas se te amarrarem na estrada.

Alguns dos poemas presentes no livro circularam anteriormente em zine publicado pela kza1. Agora, felizmente, ganham sua primeira versão em livro, depois de passar por um novo tratamento editorial: reordenação, exclusões e inclusões de poemas, olhar minucioso do autor e editorxs.

a galope | bloco 2

R$ 180,00Preço
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    A garupa é uma iniciativa independente, sem financiamento de qualquer ordem. Ela insiste em publicar impressos porque entende o livro físico como um importante instrumento de transformação pessoal e social. O seu apoio nas campanhas de pré-venda é fundamental para a realização dos nossos projetos.

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